Borboleta

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quarta-feira, 7 de setembro de 2016




O SER PSÍQUICO 


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O conjunto de textos que apresentamos aqui, reúne, em um só volume, alguns dos múltiplos aspectos da obra e ensinamentos de Sri Aurobindo e da Mãe, que tratam do ser psíquico. Esta seleção aborda a natureza do ser psíquico projetando a luz de Sri Aurobindo e da Mãe, sobre estrutura interior do ser humano.

«A palavra «alma» tem um uso muito ambíguo, no idioma inglês, porque designa, frequentemente, o conjunto da consciência que não é física, incluindo mesmo, o vital com seus desejos e suas paixões. Por isso, a expressão «ser psíquico» deve ser utilizada para distinguir esta porção divina, das partes instrumentais da natureza.»

Como o assinala Sri Aurobindo, a palavra «psíquico», tem sido utilizada de uma maneira confusa. Por isso, a primeira parte desta compilação de textos contém extratos relacionados com os diferentes sentidos das palavras «alma» e «psíquico», e aclaram seu significado no contexto do yoga.

Finalmente, é preciso fazer notar a distinção essencial que faz, Sri Aurobindo, entre a alma em sua essência, e a alma em sua forma evoluída e individualizada. Efetivamente, ele designa a primeira com as palavras psique, essência psíquica, entidade psíquica, existência psíquica, chispa da alma ou elemento da alma. E denomina, à segunda, ser psíquico, personalidade psíquica, forma da alma ou personalidade da alma, que é, segundo sua própria definição, «a chispa que cresce e torna-se um Fogo que evolui com o desenvolvimento da consciência»


"A Terra deve transformar-se para igualar ao Céu, 
ou o céu descer no estado mortal da Terra. 
Mas para que tão vasta mudança espiritual tenha lugar, 
da caverna mística no coração do homem 
a psique celestial deve levantar o véu, 
e entrar nos repletos recintos da natureza comum, 
e manter-se descoberta frente a essa natureza 
e reger seus pensamentos 
e encher seu corpo e sua vida." 

Sri Aurobindo
Savitri, Livro VII, Canto 2 

***

(Ndr. Seguem abaixo alguns trechos selecionados)  

No início da criação da humanidade, é o ego, o elemento unificador. É ao redor do ego que os diferentes estados do ser são agrupados; mas, agora, que se prepara o nascimento da sobrehumanidade, o ego deve desaparecer e deixar o lugar ao ser psíquico que se forma lentamente para a intervenção divina, para manifestar o Divino no ser humano. 
A Mãe 


"A Função do Ser Psíquico" 

Esta é a função do ser psíquico: atuar em cada plano para que a pessoa desperte para a autêntica verdade e para a Realidade Divina. 
Sri Aurobindo

"Qual é o trabalho do ser psíquico?" 

Qual é o trabalho do ser psíquico? Você quer que tenha um trabalho? O que você quer dizer exatamente? Qual é sua função? Ah! Pois bem, poderia se dizer isto: é como o fio elétrico que une o gerador com a lâmpada. Agora, se alguém compreendeu que me explique o que eu disse! 

O que é o gerador e o que é a lâmpada? (Risos) 

Ah, está bem! Então, o que é o gerador e que é o lâmpada? Justamente é isso! O que é o gerador e o que é a lâmpada? 

O gerador é o Divino e a lâmpada é o corpo. 

É o corpo, é o ser visível. 

Então isso. Essa é sua função! Isto é, que se não existisse o ser psíquico na Matéria, não poderia haver contato direto com o Divino. E é graças a esta presença psíquica na Matéria que o contato pode ser direto entre a Matéria e o Divino, e se pode dizer de todos os seres humanos: vocês levam o Divino dentro de si, e o encontrarão. É algo muito especial no ser humano, ou pelo menos, nos habitantes da Terra. 

No ser humano o ser psíquico se torna mais consciente, mais formado. Mais consciente e mais independente também. Está individualizado nos seres humanos. Mas é uma especialidade da Terra. É uma infusão direta, especial e redentora, na Matéria mais inconsciente e mais escura, para que ela possa despertar novamente, por etapas, à Consciência divina, à Presença divina e finalmente ao próprio Divino. É a presença do ser psíquico que faz do homem um ser excepcional – eu não gosto muito de dizer isso, porque vocês se creem muito. Você tem uma opinião de si mesmo tão alta, que não é necessário animar-lhe! 

Mas, enfim, é um fato - até o ponto que existem certos seres de outros planos do universo, o que alguns chamam de semideuses ou inclusive deuses, seres, por exemplo, que Sri Aurobindo chama de Sobremente, que estão muito ansiosos de tomar um corpo físico sobre a Terra, para ter a experiência do ser psíquico, porque eles não têm isso. Estes seres têm certamente qualidades que os homens não possuem, mas lhes falta esta Presença divina, que é completamente excepcional e que é um fato da Terra e de nenhum outro lugar. Todos estes habitantes dos mundos superiores, do mental superior, da Sobremente e de outras regiões não têm ser psíquico. Sem dúvida, os seres do vital também não o têm. Mas eles não o lamentam, não o querem. Existem apenas aqueles, muito raros, completamente excepcionais, que querem converter-se, e por isso fazem uma coisa imediata: é tomar um corpo físico; os outros não o desejam. Isso é algo que os amarra, os constrange a uma regra que eles não querem. 

Mas é um fato. Consequentemente, sou obrigada a constatar que isso é assim, que levar nele o ser psíquico é uma virtude excepcional do ser humano. E para dizer a verdade, ele não tira grande proveito. Não parece que considere sua virtude como algo muito, muito desejável, pela forma com que trata esta presença - exatamente isso! Prefere suas ideias da mente, prefere seus desejos do vital e prefere seus hábitos do físico. 
A Mãe 


"A alma e o ser psíquico são uma só e única coisa?" 

Isso depende da definição que se dá às palavras. Na maior parte das religiões e, talvez, também nas filosofias, se chama «alma» ao ser vital, porque se diz que «a alma abandona o corpo», quando é o ser vital quem abandona o corpo; fala-se de «salvar as almas», de «almas más», de «resgatar as almas»... mas tudo isso se aplica ao ser vital, porque o ser psíquico não tem necessidade de ser salvo!... não toma parte nas faltas da pessoa exterior, está livre de toda reação. 

A Mãe 


É necessário fazer uma distinção entre a alma em sua essência e o ser psíquico. Cada um tem uma alma que é a chispa do Divino - nada poderia existir sem ela. Mas é absolutamente possível que um ser vital e físico exista sem ter, por trás dele, um ser psíquico claramente evoluído. E por tanto, não pode ser afirmado, de uma maneira geral, que os homens primitivos não tinham alma ou que sua alma não se mostrava em nenhuma parte. 

Sri Aurobindo


"A Alma Dupla" 

Há em nós uma alma dupla, ou um termo psíquico duplo, como é duplo qualquer outro princípio cósmico em nós. Nós temos, efetivamente, duas mentes; uma é a mente superficial de nosso ego que se expressa na evolução, a mente superficial que nós criamos emergindo da Matéria; a outra uma mente subliminar que não está obstaculizada por nossa vida mental atual e suas rigorosas limitações, e que é grande, poderosa e luminosa, o ser mental verdadeiro por trás desta forma superficial da personalidade mental que tomamos por nós mesmos, erroneamente. 

Nós temos paralelamente duas vidas, uma exterior, tecida no corpo físico, unida por sua evolução passada à Matéria que vive, que nasceu e que morrerá: a outra, uma força subliminar de vida, que não está encerrada entre as estreitas fronteiras de nosso nascimento e de nossa morte física, mas que é nosso ser vital verdadeiro, por trás da forma de vida que a ignorância nos faz tomar por nossa existência real. 

Esta dualidade está presente até na matéria de nosso ser; porque, por trás de nosso corpo, nós possuímos uma existência material mais subtil, que fornece a substância não somente de nosso desenvolvimento físico, mas dos desenvolvimentos vital e mental e é, consequentemente, nossa substância real, o suporte desta forma física que, desacertadamente, imaginamos que é o corpo total de nosso espírito. 

Também temos em nós uma dupla entidade psíquica, na superfície a alma-de-desejo que atua em nossas ansiedades vitais, nossas emoções, nossas faculdades estéticas e nossa busca mental de poder, de conhecimento e de sucesso, e uma entidade psíquica subliminar, uma pura força de luz, de amor, de alegria e de essência sutilizada do ser que é nossa alma verdadeira por trás da forma exterior da existência psíquica de cujo nome nós fazemos honra tão frequentemente. Quando um reflexo desta entidade psíquica maior e mais pura vem à superfície, nós falamos de um homem que tem uma alma, e que não a tem se este reflexo não aparece em sua vida psíquica exterior. 

Sri Aurobindo 


A alma e a vida são dois poderes completamente diferentes. A alma é uma chispa do Espírito divino que sustenta à natureza individual; a mente, a vida e o corpo são instrumentos para manifestação da natureza. Na maioria dos homens, a alma está oculta e envolvida pela ação da natureza exterior; os homens confundem o ser vital e a alma, porque o vital é quem anima e faz mover os corpos. Mas este ser vital é uma coisa feita de desejos e de forças executoras, boas e más; é a alma-de-desejo, não a alma verdadeira. Quando a alma verdadeira (psique) se põe à frente e começa, em primeiro lugar a influenciar, depois a governar as ações da natureza instrumental, o homem começa a superar o desejo vital e a desenvolver-se para uma natureza divina. 

Sri Aurobindo 



Se o conhecimento é o poder mais vasto da consciência, e se sua função é liberar e iluminar, o amor é o poder mais profundo e mais intenso, e seu privilégio é ser a chave dos retiros mais íntimos e mais secretos do Mistério divino. O homem, como é um ser mental, inclina-se a dar uma importância suprema à mente pensante e a sua razão, sua vontade, sua forma mental de abordar e de realizar a Verdade; tem inclusive tendência a considerar que não existe outra forma de fazê-lo. 

Aos olhos do intelecto, o coração, com suas emoções e seus movimentos imprevisíveis, é um poder escuro, incerto, frequentemente perigoso e enganoso, que é necessário ter sob o controle da razão, da vontade mental e da inteligência e, no entanto, há, no coração ou por trás dele, uma luz mística mais profunda que não é o que nós chamamos a «intuição» (porque esta desce através da mente, no entanto não vem da mente), mas que está em contato com a Verdade e que está mais próxima do Divino que o intelecto humano com seu orgulho, seu conhecimento. 

De acordo com o antigo ensinamento, a sede do Divino imanente, o Purusha* oculto, acha-se no coração místico - a «caverna secreta do coração», hridaye gouhayam*, como se denomina nos Upanishads * - e segundo a experiência de números yoguis*, é destas profundidades que chega a voz ou a inspiração do oráculo interior. 

Esta ambiguidade do coração, estas aparentes oposições entre profundidade e cegueira, são criadas pelo duplo caráter das emoções humanas. Porque no primeiro plano, no homem, há um coração de emoções vitais, semelhante ao dos animais, se bem que seu desenvolvimento seja mais variado; um coração cujas emoções estão governadas pelas paixões egoístas, os afetos cegos e instintivos e por todo o jogo de impulsos da vida com suas imperfeições, suas perversões e frequentemente suas sórdidas degradações; é um coração assediado e conquistado pela luxuria, o desejo, a cólera, as exigências brutais e intensas, ou pelas pequenas cobiças e mesquinhez de uma força de vida escura e decaída, envelhecida por sua escravidão a qualquer impulso. 

Esta mistura do coração emotivo e do vital ávido de sensações, cria no homem uma falsa «alma-de-desejo»; é este elemento grosseiro e perigoso do qual a razão desconfia, com todo o direito, e sente a necessidade de dominar, ainda que na realidade, o domínio, ou bem mais, a coação que ela chega a exercer sobre nossa natureza vital grosseira e obstinada, resulta sempre muito incerta e enganosa. Mas, a alma verdadeira do homem não está ali; está no verdadeiro coração, invisível, oculto em alguma caverna luminosa de nossa natureza: ali, sob uma infiltração de Luz divina, está nossa alma, o ser silencioso e profundo, da qual poucos homens são apenas conscientes; porque, embora todos têm um alma, raros são aqueles que percebem sua verdadeira alma ou sentem seu impulso direto, ali onde mora a pequena chispa do Divino que sustenta a massa escura de nossa natureza: ao redor dela cresce o ser psíquico, a alma formada ou o Homem verdadeiro em nós. 

À medida que o ser psíquico cresce e os movimentos do coração refletem seus impulsos divinos, o homem torna-se cada vez mais consciente de sua alma e deixa de ser um animal superior, e, despertando-se para algum fulgor da Divinidade que está nele, aceita cada vez mais as intimações de uma vida e de uma consciência mais profundas e o impulso que lhe leva para as coisas divinas. Um dos momentos decisivos do yoga integral é quando o ser psíquico, liberado, emerge das profundidades por trás do véu, sai à superfície e pode derramar sobre a mente, a vida e o corpo do homem, a grande corrente de suas intuições, de suas visões e de suas inspirações, e começar a preparar a edificação da divindade na natureza terrestre. 

Sri Aurobindo 


"A Natureza do Ser Psíquico" 

Está na natureza própria da alma ou ser psíquico, voltar-se para a Verdade divina como o girassol para o sol; tudo que é divino ou que progride para a divindade, ela o aceita e o assume, e se retira de tudo que é uma perversão ou um insulto à divindade, de tudo que é falso ou antidivino. 

Mas no início a alma não é mais que uma chispa, depois uma pequena chama divina que arde no meio da escuridão: está em grande parte oculta em seu santuário interior, e, para revelar-se, tem que convocar à mente, à força da vida e à consciência física e persuadir-lhes de que a expressem tanto quanto possam; geralmente, ela consegue no máximo, impregnar com sua luz interior seu exterior e, com sua delicadeza purificadora, atenuar suas sombrias escuridões ou suas promiscuidades grosseiras. Inclusive quando o ser psíquico está suficientemente formado para poder expressar-se de uma forma mais direta na vida, não representa mais que para uns poucos, uma parte ínfima do ser - «não maior que o polegar de um homem no corpo humano», segundo a imagem dos antigos videntes - e não é capaz de prevalecer, nunca, contra a escuridão e a pequenez ignorante da consciência física, contra a autossuficiência errônea da mente ou a arrogância e a veemência da natureza vital. 

A alma é obrigada a aceitar a vida mental, emotiva e sensorial, tal como está nos homens, com suas relações, suas atividades, suas formas e seus símbolos preferidos; ela deve trabalhar para fazer surgir o elemento divino enterrado em toda esta verdade relativa, misturada continuamente com as falsificações do erro, neste amor posto a serviço do corpo animal, ou da satisfação do ego vital, nesta vida de homem comum atravessada por raros e antigos flashes de divindade e as sombras brilhantes de demônio e da besta. Ela não se engana jamais em sua vontade essencial, mas é frequentemente obrigada, sob a pressão de seus instrumentos, a tolerar faltas na ação, sentimentos mal dirigidos, pessoas mal escolhidas, erros na correta expressão de sua vontade e nas circunstâncias que devem manifestar seu ideal interior infalível. 

No entanto, há nela uma visão que a torna uma guia mais segura que a razão ou os desejos, inclusive os mais nobres, e, apesar dos erros e dos aparentes passos em falso, sua voz pode, contudo, conduzir com maior segurança do que o intelecto preciso, e do que as considerações do julgamento mental. 

Esta voz da alma não é o que se chama a «consciência» - isso não é mais que um substituto mental, frequentemente convencional e sujeito a erro; é um chamado mais profundo e mais raramente escutado; no entanto, o mais sábio é segui-lo quando o escuta; é inclusive preferível errar seguindo o chamado da alma que avançar diretamente, na aparência, obedecendo à razão e à moral exterior. 

Mas é somente quando a vida se volta para o Divino, que a alma pode verdadeiramente se pôr à frente e impor seu poder às partes externas do ser, porque, sendo ela mesma uma chispa do Divino, sua verdadeira vida e a própria razão de sua existência é crescer como um chama para o Divino. 

Sri Aurobindo 


A verdadeira alma secreta em nós - subliminar, nós temos dito, mas a palavra pode confundir, porque esta presença não se encontra sob o umbral da mente desperta, mas que, bem mais, arde no templo do coração mais interior, por trás da densa cortina de uma mente, de uma vida e de um corpo ignorantes, não subliminares, mas por trás do véu - esta entidade psíquica oculta é a chama do Divino, sempre acesa em nós; esta densa inconsciência não pode extinguir nosso ser espiritual interior, ainda que escureça nossa natureza exterior. 

É uma chama nascida do Divino; habitante luminoso da Ignorância, cresce nela até o momento em que pode voltá-la para o Conhecimento. É a Testemunha interior, o Controlador, o Guia escondido, o Daimon de Sócrates, a luz interior ou a voz interior do místico. É o que subsiste, o que é imperecível em nós, de nascimento em nascimento, inalcançável pela morte, a decrepitude ou a corrupção, uma chispa indestrutível do Divino. 

Não é o Ser-Essencial ou o Atman não nascido, porque o Ser-Essencial, ainda que presida a existência do indivíduo, permanece sempre consciente de sua universalidade e de sua transcendência; é seu representante nas formas da Natureza, a alma individual, chatiya purusha que sustenta a mente, a vida e o corpo, se situa por trás do ser mental, vital e físico sutil em nós, vela em sua evolução e em suas experiências. 

Esses outros poderes, ou pessoas no homem, esses seres de seu ser estão também recônditos (ocultos) em sua verdadeira entidade, mas põem à frente personalidades temporárias que compõem nossa individualidade exterior e cuja ação superficial e aparência de estabilidade combinados, chamamos nós-mesmos. Tomando forma em nós, esta Pessoa psíquica, esta entidade do mais recôndito põe na também, uma personalidade psíquica que muda, cresce, se desenvolve de vida em vida; porque ela é a viajante que vai do nascimento à morte e da morte ao nascimento; as partes da Natureza em nós não são mais que sua vestimenta mutável e múltipla. 

No início o ser psíquico não pode atuar mais que de uma maneira velada, fragmentaria e indireta, por intermédio da mente, da vida e do corpo, já que esses são as partes da Natureza que devem desenvolver-se para chegar a ser os instrumentos, graças aos quais, ele se expressará, e sua evolução limita durante longo tempo sua ação. Tendo por missão conduzir o homem desde a Ignorância até a luz da Consciência divina, absorve a essência de tudo o que é vivido na Ignorância para formar o núcleo do crescimento da alma na natureza; o resto transforma no material para um futuro desenvolvimento dos instrumentos dos quais se deve servir até que estejam preparados para servir de instrumentos luminosos do Divino. 

É esta entidade psíquica secreta que é a verdadeira Consciência original em nós, mais profunda que a consciência convencional e fabricada do moralista, porque é ela que assinala sempre a Verdade, a Justiça, a Beleza, o Amor e a Harmonia e tudo o que é possibilidade divina em nós, e ela que insiste enquanto estas coisas não chegaram a ser a maior necessidade de nossa natureza. 

É a personalidade psíquica em nós que emerge produzindo o santo, o sábio, o vidente; quando ela atinge a plenitude de sua força volta o ser para o Conhecimento do Ser-Essencial e do Divino, para a Verdade suprema, o Bem supremo, a Beleza, o Amor, a Beatitude suprema, as alturas, as vastas extensões divinas e abre-nos à simpatia espiritual, da universalidade, da unidade. Em contrapartida, ali onde a personalidade psíquica é débil, imatura ou mal desenvolvida, faltam as partes e os movimentos mais delicados, ou seu caráter e seu poder são pobres, embora a mente seja uma estruta forte e brilhante, o coração e suas emoções vitais rígidas, poderosas e cheias de domínio, a força-de-vida, dominante e triunfadora, e a existência corporal rica e feliz e aparentemente vitoriosa e soberana. 

É então, a alma-de-desejo exterior, a entidade pseudo-psíquica que reina, e nós tomamos suas interpretações errôneas como sugestões e como aspiração psíquicas; suas ideias e seus ideais, suas ambições e seus desejos ardentes, pela verdadeira substância da alma e pelas riquezas da experiência espiritual.. 

Se a Pessoa psíquica velada pode por-se à frente e, substituindo a alma-de-desejo, governar aberta e inteiramente esta natureza exterior da mente, da vida e do corpo, em vez de somente, de forma parcial e por trás do véu, então a mente, a vida e o corpo podem ser moldados em imagens da alma, do que é verdadeiro, justo e belo, e finalmente, toda a natureza inclinar-se para a finalidade real da vida, a vitória suprema, a ascensão à existência espiritual. 

Sri Aurobindo 


A alma é sempre pura, mas o conhecimento e a força que estão nela estão involuídos e se manifestam somente à medida que o ser psíquico evolui e se fortalece. 

Sri Aurobindo 


Uma vida perversa e inferior não pode ter outro efeito que o de separar, cada vez de maneira mais completa, o ser exterior do ser psíquico, que se retira às profundidades da consciência superior, e algumas vezes, inclusive, corta toda relação com o corpo, que então é frequentemente possuído por um ser asurico* (o Titã; um ser hostil que pertence ao plano do vital mentalizado) ou rajásico*. 
O ser psíquico está, ele mesmo, acima de toda possibilidade de degradação. 

A Mãe 


Ha alguma diferença entre «o espiritual» e «o psíquico»? São dois planos diferentes? 

Sim. O plano psíquico pertence à manifestação pessoal; o ser psíquico é a arte divina do ser individual, um dinamizador do jogo. Mas quando falamos do espiritual, pensamos em algo que está mais concentrado no Divino que na manifestação da superfície. O plano espiritual é estático e encontra-se atrás e acima do jogo universal; sustenta os instrumentos da natureza, mas não se acha, ele mesmo, incluído nem submerso na manifestação exterior. 

No entanto, ao falar destas coisas, devemos ter cuidado para não nos deixar limitar pelas palavras das quais nos servimos. Quando digo psíquico ou espiritual, falo de coisas que são muito profundas e reais por trás da pobre aparência superficial das palavras e que se encontra em estreita relação mútua, mesmo sendo diferentes. As definições e distinções intelectuais são muito superficiais e rígidas para abraçar a verdade absoluta das coisas. 

A Mãe 


Que diferença existe entre a palavra «espiritual» e a palavra «psíquico»? 

Não é a mesma coisa. O ser psíquico é o ser organizado pela Presença divina e é próprio da terra - não falo do universo, somente da terra, e é apenas sobre a terra onde vocês encontrarão o ser psíquico. 

O universo contém todos os âmbitos superiores ao âmbito físico: há um físico global que compreende a mente, o vital, etc., e todos os âmbitos acima do âmbito mental são âmbitos de ordem espiritual, âmbitos que para vocês são do espírito, e é este espírito que pouco a pouco, progressivamente, se materializa para chegar à Matéria tal como nós a concebemos. 

Os seres do Sobremental, por exemplo, e todos os seres das regiões superiores não têm ser psíquico - os «anjos» não têm ser psíquico. Este está apenas sobre a terra onde a vida psíquica começa e, é justamente, o procedimento pelo qual o Divino tem despertado a vida material à necessidade de atingir sua origem divina. Sem o psíquico a matéria jamais seria despertada de sua inconsciência, jamais teria aspirado à vida de sua origem ou vida espiritual. 

A Mãe 


Também é um erro achar que só o vital é caloroso e que o ser psíquico seria algo frio que não conteria nenhuma chama. Uma amabilidade clara e limpa é uma coisa boa e desejável. Mas isso não é o que se entende por amor psíquico. O amor é amor e não somente amabilidade. O amor psíquico pode ter um calor e uma chama tão intensa e, inclusive mais intensa que o amor vital; só que seu fogo é puro, não tem necessidade, para subsistir, de satisfazer o desejo do ego ou de devorar o combustível que abraça. Sua chama é branca e não vermelha, mas o calor branco não é menos ardente que o vermelho. 

É verdade que o amor psíquico não tem, geralmente, a possibilidade de se desenvolver-se totalmente nas relações humanas e na natureza humana; para ele é mais fácil encontrar a plenitude de seu fogo e de seu êxtase quando é elevado para o Divino. Nas relações humanas o amor psíquico mistura-se com outros elementos que procuram se servir dele e eclipsá-lo. 

Raros são os momentos nos quais ele encontra uma saída para liberar plenamente suas intensidades. De outro modo, não intervirá mais que como um elemento do amor; ainda assim, introduz, num amor fundamentalmente vital, todos os sentimentos elevados; é do ser psíquico que vêm todos esses belos sentimentos: doçura, ternura, fidelidade, doação de si, sacrifício, reencontro de alma com alma, sublimações idealizantes que elevam o amor humano acima dele mesmo. 

Se pudesse dominar, governar, transmutar os outros elementos mentais, vitais e físicos do amor humano, então o amor poderia ser, sobre a Terra, um reflexo ou uma preparação do verdadeiro amor, uma união integral da alma e de seus instrumentos em uma existência dual. Mas encontrar, ainda que seja somente uma aparência imperfeita disso, é raro. 

Sri Aurobindo 

As comunicações do ser psíquico não chegam em forma mental. Não são ideias nem pensamentos. Elas têm seu caráter próprio, nitidamente diferente do mental, algo como um sentimento que se compreende, ele mesmo, e que atua. 

O ser psíquico é, por natureza própria, sossegado, tranquilo e luminoso, compreensivo e generoso, amplo e progressivo. Mantém um esforço constante para compreender e progredir. 
A mente descreve e explica. 
O ser psíquico vê e compreende. 

A Mãe 


A pessoa pode ter o conhecimento do ser psíquico, ainda que seja de outra natureza e não o formule mentalmente. É uma espécie de certeza interior, que impulsiona-os a fazer a coisa certa, no momento certo, do jeito certo, sem passar necessariamente pelo pensamento nem pela formação mental. 

Por exemplo, a pessoa pode atuar com um conhecimento perfeito do que deve ser feito e sem intervenção – sem a menor intervenção - do raciocínio mental. A mente é silenciosa: simplesmente observa e escuta para registrar as coisas, e não atua. 

A Mãe 


A percepção da consciência exterior pode negar a percepção do psíquico. Mas o ser psíquico tem o conhecimento verdadeiro, um conhecimento intuitivo, instintivo. Ele diz: «Eu sei. Não posso dar razões, mas eu sei». Porque seu conhecimento não é mental, nem baseado na experiência, nem demonstrado. Não crê após ter recebido provas, porque a fé é o movimento da alma e seu conhecimento é espontâneo e direto. 

Ainda que o mundo inteiro dissesse o contrario, aportando milhares de provas, isso não lhe impediria saber, graças ao conhecimento interior, a uma percepção direta que pode resistir a tudo, uma percepção por identidade. O conhecimento do ser psíquico é uma coisa concreta e tangível, uma massa sólida. Vocês podem também levar este conhecimento para sua mente, seu vital e seu físico, e então terão uma fé integral, uma fé que pode verdadeiramente mover montanhas. Mas é preciso que nada no ser diga: «Isto não é assim», nem peça provas. A menor debilidade na fé põe tudo a perder. Como poderia o Supremo manifestar-se se a fé não fosse imutável e integral? 

Em si, a fé é sempre inquebrantável: essa é sua própria natureza, se não, não seria fé. Mas pode ocorrer que a mente ou o vital ou o físico não sigam o movimento psíquico. Um homem pode chegar até um yoqui e ter a fé repentina que esta pessoa lhe conduzirá ao objetivo. Não sabe se este tem o conhecimento ou não, mas sente um choque psíquico e sabe que encontrou seu mestre. Não crê depois de longas considerações mentais nem depois de ter visto milagres. 

E este é o único tipo de fé que tem valor. Vocês errarão sempre seu destino se começam a discutir. Assim, há pessoas que se sentam e se põem a examinar se o impulso psíquico é razoável ou não. 

Isto não é o que se chama fé cega, que verdadeiramente perde ás pessoas. Frequentemente dizem: «Oh, eu cria nesta ou naquela pessoa e traiu-me». De fato, isto não é uma falha dessa pessoa, mas daquele que cria nela; é ele quem tinha, em si mesmo, alguma debilidade. Se tivesse mantido intacta sua fé, teria mudado o outro. Porque não se manteve na mesma consciência cheia de fé, e não soube conseguir que essa pessoa se convertesse no que ele queria que fosse, se viu traído. Se ele tivesse tido uma fé integral, teria obrigado a essa pessoa a mudar. 

Os milagres sempre chegam pela fé. Alguém preenche outro e entra em contato com a Presença divina: se pode manter este contato de uma forma pura e contínua, obrigará à Consciência divina a manifestar-se até no mundo mais material. Tudo depende de seu próprio nível e de sua sinceridade e, quanto mais preparados estejam psiquicamente mais se verão conduzidos para a fonte verdadeira, para o verdadeiro mestre. 

O ser psíquico e sua fé são sempre sinceros, mas se há insinceridade em seu ser exterior e se procuram poderes pessoais em lugar da vida espiritual, podem perdê-lo. É isso o que os perde e não sua fé. Uma fé que é pura em si mesma pode encontrar-se corrompida no ser por movimentos inferiores e isso é o que os perde. 

A Mãe 


"Doce Mãe, qual é o papel da alma?"

Mas sem alma nós não existiríamos! A alma é o que vem do Divino sem separar-se dele jamais, e retorna ao Divino sem deixar de manifestar-se.

A alma é o Divino feito indivíduo sem deixar de ser Divino. 

Na alma, o indivíduo e o Divino são Um eternamente; assim, encontrar sua alma é encontrar a Deus: identificar-se com sua alma é unir-se ao Divino.

Pode ser dito, então, que o papel da alma é fazer do homem um ser verdadeiro.

A Mãe


A mente pode abrir-se espontaneamente a suas próprias regiões superiores: pode imobilizar-se e alargar-se no Impessoal, pode também espiritualizar-se em uma espécie de liberação estática ou Nirvana*; mas o Supramental não encontra uma base suficiente na mente espiritualizada somente. Se a alma profunda está desperta, se há um novo nascimento, e passa da simples consciência mental, vital e física à consciência psíquica, então pode ser praticado este yoga; de outro modo (apenas pelo poder da mente ou de qualquer outra parte do ser) é impossível.

Sri Aurobindo


É melhor, sem dúvida alguma, que o ser psíquico esteja consciente e ativo antes que seja retirado o véu, a tela que se encontra entre a consciência individual e a consciência cósmica, o qual se produz quando o ser interior é trazido ao primeiro plano em toda sua amplitude. Porque então, o perigo representado pelas dificuldades do que tenho chamado a zona intermediária, é consideravelmente menor.

Sri Aurobindo


A purificação e a consagração são duas grandes necessidades da sadhana*. Aqueles que têm experiências antes de estar purificados, correm um grande risco: é muito melhor ter em primeiro lugar o coração puro, porque então o caminho se torna seguro. Por isso, recomendo proceder de preferência à transformação psíquica da natureza, porque ela entranha a purificação do coração, sua inteira orientação para o Divino, a submissão da mente e do vital ao domínio do ser interior, da alma. 

Quando a alma está no primeiro plano, a pessoa recebe sempre, desde dentro, a orientação correta do que tem que fazer, do que deve ser evitado, daquilo que é falso e do que é justo no pensamento, no sentimento e na ação. Mas esta indicação interior emerge cada vez mais, na medida em que a consciência se faz cada vez mais pura.

Sri Aurobindo


O que quero dizer quando falo do ser psíquico que se põe à frente, é simplesmente isso.

Normalmente o ser psíquico está, profundamente, escondido no interior. Muito poucas pessoas são conscientes de sua alma: quando falam dela, normalmente querem dizer o ser vital, o ser mental ou também a (falsa) alma-de-desejo. O ser psíquico permanece atrás, atua somente por intemédio da mente, do vital e do físico, cada vez que pode. 

Por esta razão, o ser psíquico - salvo se esteja muito desenvolvido - não tem sobre a vida da maior parte dos homens, mais que uma influência débil e parcial, dissimulada, misturada ou diluída. Por «pôr-se à frente», entendo que ele sai de trás do véu, sua presença é já experimentada na consciência quotidiana de vigília, que sua influência cheia, domina, transforma a mente e o vital, bem como seus movimentos, e inclusive o físico. 

A pessoa é consciente de sua alma, experimenta o ser psíquico como seu ser verdadeiro, a mente e o resto começam a não ser mais que instrumentos do que está no mais profundo dentro de nós.

Sri Aurobindo

Parece-me que vocês deveriam já saber o que é o ser psíquico que está junto com sua consciência atrás do véu; só uma pequena parte emerge na mente, o vital e o físico. Quando esta consciência não está mascarada, quando vocês são conscientes de sua alma (o ser psíquico), quando seus sentimentos e sua consciência são seus, então vocês têm a consciência do ser psíquico. Os sentimentos e as aspirações do ser psíquico orientam-se todos para a verdade, a consciência justa e o Divino; é a única parte do ser que não pode ser atingida pelas forças hostis e suas influências.

Sri Aurobindo


O ser psíquico está no centro do coração, no meio do peito (não no coração físico, porque todos os centros se acham no meio do corpo), mas está ali atrás. Quando a pessoa se afasta do vital para ir para o psíquico, tem a impressão de descer cada vez mais profundo até que atinge o ponto central do ser psíquico. O ser emotivo está situado na superfície do centro cardíaco; a partir dali, a pessoa submerge na profundidade para encontrar o ser psíquico.

Sri Aurobindo


Nunca ouvi falar de dois lotus no centro do coração, mas ali se encontra a sede de dois poderes: à frente, o vital superior ou ser emotivo; atrás e oculta, a alma ou ser psíquico.

O ápice do centro psíquico e emotivo (como o ápice de todos os centros) se acha na coluna vertebral, a base está à frente, no meio do esterno. 

Sri Aurobindo


A emoção é um bom elemento no Yoga*, mas o desejo emotivo chega a ser facilmente uma causa de perturbação e um obstáculo.

Dirijam suas emoções para o Divino, aspirem a purificá-las; elas serão então uma ajuda no caminho e não uma causa de sofrimento. 

Não é necessário aniquilar a emoção, mas voltá-la para o Divino; esse é o bom caminho no yoga. 

Mas a emoção deve ser purificada, fundamentar-se sobre a paz e a alegria espiritual; ser capaz de transmutar-se em Ananda*.

A igualdade e a calma nas partes mentais e vitais podem ir perfeitamente, acompanhadas com uma emoção psíquica intensa no coração. 

Acenda no coração, por sua aspiração, o fogo psíquico que arde com uma chama leal e se eleva para o Divino; é o único meio de levar a natureza emotiva à liberação e à plenitude.

Sri Aurobindo


Só as emoções vitais ordinárias, que desperdiçam a energia e agitam a concentração e a paz, devem ser afastadas. A emoção, não é em si, uma coisa má; é um elemento necessário da natureza, e a emoção psíquica é uma das ajudas mais poderosas na sadhana*. Não é preciso reprimir a emoção psíquica que faz brotar lágrimas de amor pelo Divino ou lágrimas de Ananda*: é unicamente a mistura do vital que introduz perturbação na sadhana*. 

Sri Aurobindo



No plano físico, o Divino expressa-se a Si mesmo através da beleza. No plano mental faz através do conhecimento; no plano vital, através do poder, e no plano psíquico, através do amor.

Quando nos elevamos suficientemente, descobrimos que estes quatro aspectos unificam-se um ao outro, em uma consciência única, cheia de amor, luminosidade, poderosa, bela, contendo tudo, penetrando tudo.

É, unicamente para satisfazer o jogo universal, que esta consciência se divide em diferentes linhas ou em aspectos múltiplos da manifestação.

A Mãe



Tradução do PDF Espanhol para o Português: Célia M http://natransparenciadoser.blogspot.com.br/2016/09/o-ser-psiquico-chispa-divina-sri-aurobindo-e-mae.html
Original: http://www.aurobindo.ru/workings/index_sp.htm

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